Ele é conhecido pela habilidade com as panelas e os ingredientes, mas desde muito cedo Alex Atala já dava mostras que queria empreender. Em meados dos anos 80, o paulistano nascido na Mooca e criado em São Bernardo do Campo, então aos 14, saiu de casa e foi ganhar a vida trabalhando como DJ na boate Rose Bom Bom e vendendo fitas cassete para amigos.

Com o dinheiro que reuniu, foi para Europa. “Naquele momento eu tinha um sonho adolescente de poder andar pelo mundo, queria assistir ao show do Stray Cats”, diz. Lá começou a se manter como pintor de paredes e, por indicação de um colega, foi parar em um curso de gastronomia na Bélgica.

Depois de passar por cozinhas de diversos países do continente, voltou para o Brasil em 1994, onde queria que o filho nascesse. Em 1999, fundou o D.O.M. com o dinheiro da venda de um antigo restaurante anterior e a coleção de relógios. “Efetivamente arrisquei tudo”, afirma. À frente dele, ganhou projeção internacional. Além do reconhecimento na área – as duas estrelas no Guia Michelin e o 11º lugar na lista de 50 melhores restaurantes da revista britânica “Restaurant” (na qual já chegou à 4ª posição em 2012) -, Atala foi tema de documentário no Netflix, capa da revistas e eleito pela Time uma das cem personalidades mais importantes de 2013 ao lado de Elon Musk, Papa Francisco, Barack Obama, Jay Z e Malala Yousafzai.

Hoje a lista de empreendimentos com os quais Atala está envolvido aumentou: além dos dois restaurantes que fundou, D.O.M. e Dalva e Dito, ele é sócio do Açougue Central, assina o cardápio do Riviera, em São Paulo, é garoto-propaganda de marcas como Seara e 3 Corações, e está a frente do Instituto ATÁ, que procura fortalecer pequenos produtores espalhados pelo Brasil. “A partir do momento em que não precisei mais me preocupar com a sobrevivência, fundei o instituto, mas se eu soubesse o quanto é complexo manter algo assim, eu não o teria feito”, diz. “O não saber, por outro lado, muitas vezes é uma virtude. Talvez o ATÁ seja uma das coisas mais gratificantes que eu fiz nos últimos anos.”

Nome: Milad Alexandre Mack Atala

Idade: 48 anos

Onde nasceu: São Paulo, Brasil

Onde mora: São Paulo, Brasil

Que empresa fundou: Os restaurantes D.O.M. e Dalva e Dito, além do Instituto Atá.

O que faz: Cozinho.

Quem o inspira no empreendedorismo: Os filhos são minha grande fonte de inspiração. Meus pequenos, Thomaz e Joana, fizeram 14 anos. Ontem falei com o meu filho mais velho, de 22. É sensacional vê-los crescer. Eles me fazem continuar acreditando que dá para ir longe. Minha experiência com comunidades tradicionais, indígenas, caboclas, ribeirinhas e pescadoras me fez repensar muita coisa também. Eu fui orientado desde cedo a acumular. Quando você começa a conviver com essas outras realidades, começa a entender: acumular para quê? É melhor acumular ou compartilhar? São mensagens que me fazem refletir sobre a minha vida dentro desse ambiente urbano caótico, de prêmios, gastronomia, preços…

Qual negócio queria ter criado: Acho que algo que faz as pessoas felizes. A cozinha, de certo modo, deixa as pessoas satisfeitas, mas falo de algo que pudesse fazê-las felizes em todo o conjunto. O dia a dia de um restaurante ainda é duro. Acho que dá para ser melhor.

Ser empreendedor é: Tirar as coisas do ideal e trazê-las para o real. Vejo isso muito mais ligado à sobrevivência do que ao empreendedorismo. Você nunca pensa tanto em dinheiro do que quando não tem dinheiro. A partir do momento que consegue ter uma vida um pouco mais equilibrada e que o patamar da sobrevivência já não é o seu pesadelo cotidiano, isso permite sonhar um pouco mais.

Como ser um bom chefe: Liderar uma equipe talvez seja o maior desafio. É entender os defeitos dessa equipe, construir um time em que os defeitos sejam atenuados e as qualidades, exaltadas. Fazer com que se entenda que exista uma interdependência. A liderança não é imposta, ela talvez venha a ser reconhecida. E para que ela possa ser reconhecida é preciso que todos entendam que fazem parte de um conjunto, um organismo. Eu não acredito em liderança isolada. Acredito na interdependência, no compartilhamento, na corresponsabilidade, na união, no ato primário de se ajudar. O estereótipo é o de uma cozinha neurótica. A gente, por outro lado, trabalha numa cozinha que, como nós brincamos, tem três leis: não corre, não para e não fala. “Não corre” porque, se correr, você provavelmente se esqueceu de fazer algo. “Não para” porque, se parar, você poderia estar ajudando alguém. “Não fala” porque a concentração máxima é fundamental.

Um sucesso: Ser pai de três filhos.

Um fracasso: Não ser pai de sete.

O que não pode faltar num negócio: Persistência. Se você acredita que sabe fazer e que é bom, não pode parar. Dificuldades vão existir e você tem que achar uma maneira de superá-las. A diferença do bom e do mau empreendedor é que o bom sabe passar pelas fases ruins.

Já faliu: Eu nunca fali, mas eu renasci das cinzas várias vezes. Falir é jogar a toalha. Falir é o cara que desistiu. Tive, tenho e terei momentos difíceis na vida, mas não vou desistir.

Em qual negócio jamais apostaria: “Jamais” é muito forte. Acredito que cada projeto tem seu momento. A gente vai mudando, descobrindo coisas diferentes. Nunca pensei em abrir uma casa de carnes, por exemplo. Mas acabei tendo contato com trabalhos sérios focados em criação sustentável de gado, que buscavam formas de aproveitar todo aquele animal, incluindo cortes que, aqui no Brasil, são desvalorizados. Então abrimos o Açougue Central. Nele percebi a oportunidade de realizar um trabalho que nunca havia pensado antes: mostrar que não existe carne ruim.

Sua principal inovação: Gosto de pensar que criatividade não é fazer algo diferente, mas sim fazer o que todo mundo faz de uma maneira distinta. Eu não inventei nenhuma roda, mas desenvolvi trabalhos com ingredientes que ninguém imaginava ser possível. Um deles é a priprioca. Com a união de profissionais da alimentação, da nutrição e da indústria alimentar, desenvolvemos uma pesquisa com a priprioca, que até então era usada apenas na indústria de cosméticos. Só que a priprioca é um ingrediente extremamente versátil, uma pena ser desconhecida. Outro exemplo é o do palmito pupunha. Pensei em como poderia utilizá-lo além do que já era feito, como eu poderia fazer esse ingrediente brilhar. Foi então que criei o fettuccine de pupunha e posso dizer que é uma das marcas do meu trabalho. E também tem a formiga. Já servi e ainda sirvo a formiga amazônica de diferentes formas no D.O.M.. Busco um caminho para ressaltar que é possível utilizar insetos na alimentação, que essa é uma alternativa limpa e sustentável para alimentar.

Um desafio: Meu primeiro desafio foi mostrar que a cozinha brasileira era um sonho possível. Esse eu acho que consegui cumprir. Agora, me sinto desafiado a mostrar que esse patrimônio natural que nós temos – o nosso mar, as nossas florestas, os nossos recursos naturais – merecem carinho especial para que as próximas gerações comam e vivam melhor e desfrutem disso como nós desfrutamos.

Um medo: Falir! Não financeiramente, mas pessoalmente. Desistir, me acovardar, esse é o meu medo.

Fonte: PEGN