Nas ruas pequenas e curvilíneas, algumas torres brotam em meio a casinhas, como aquela amarela de grandes janelas, de quase cem anos. A Vila Romana mudou um tanto desde que Tanea Romão fez as malas para viver de geleias em Gonçalves, sul de Minas.

Foi naquela rua Catão, mais para cima, que cresceu a cozinheira, quase que como no interior. Quando menina, via a avó tirando ingredientes do quintal: ovos, queijos feitos lá mesmo, hortaliças. “Acho engraçado ouvir falar em Pancs [plantas alimentícias não convencionais] porque para mim era só ‘verdura'”, diz. “A gente nem comia couve porque o quintal era cheio de taioba.”

Alguns números para baixo da Catão, sentada na cozinha de sua nova casa, de portas abertas, Tanea relembra sua infância, época em que “comer o que tinha” ganhou tratamento incomum.

Cresceu provando costelinha com mamão verde ralado, por exemplo, que assim lembra chuchu. Quando acabava o gás, o jantar virava piquenique com fogueira. “Fomos criados em uma fantasia. Nem sabíamos que éramos pobres porque tudo era motivo de festa.” E isso resultou em uma relação especial com a comida.

Patrícia Stavis/Folhapress
Chef Tanea Romão volta a SP e abre 'oficina' na rua em que cresceu
A casa em que funcionará a oficina, na Vila Romana, foi construída no início do século passado

Mais tarde, a metalúrgica de 30 anos de idade deixou tudo para cozinhar em Minas. E, depois de 16 anos, está de volta a São Paulo, de tanta saudade que sentiu da família —para isso, fechou seu Kitanda Brasil, em Tiradentes, no meio do ano.

Em outubro, vai abrir a Oficina Tanea Romão, na casa térrea que lembra moradia de vó. Lá, vai dar aulas de cozinha, das geleias que tanto conhece e de pratos que exploram os sabores do Sudeste (a primeira, “Cozinhando com geleias” acontece em 15/10 e custa R$ 170). “Vamos ao Mercado da Lapa, aqui do lado, escolher ingredientes e cozinhar a partir deles.” “Tem coisas do Sudeste que São Paulo não conhece: araticum [da família da fruta-do-conde], lambari-da-horta [hortaliça que lembra um peixinho]…”

Alguma coisa ela vai trazer de Minas: fubá, cachaça, pequi fresco. E esta cozinha terá destaque.”Assim como o mineiro recebe bem as pessoas, as receitas absorvem preparos de Goiás e do Vale do Paraíba, por exemplo.”

E Tanea vai tratar disso nas aulas com degustação e em almoços ou jantares, sob reserva, servidos em mesas coletivas, com dobradinha e rabada. No primeiro “restaurante de um dia”, em 5/11, servirá pé de porco recheado com a carne do joelho, acompanhado de cuscuz de canjiquinha.

Oficina Tanea Romão.
Onde R. Catão, 893, Vila Romana, tel. 94288-8007
Reservas por e-mail tanearomao@kitandabrasil.com.br

Fonte: Folha de S. Paulo